segunda-feira, 24 de junho de 2013

Poluição do solo


O solo pode ser caracterizado como o manto rochoso superficial que, através de processos intempéricos, sofreu desagregação física, dando origem à estrutura edáfica atual (RIZINNI, 1997; BRAGA et. al. 2002; RAVEN et. al., 2007). No processo de formação do solo, a rocha desagregada continuou sofrendo transformações, tendo a participação de organismos – líquens, fungos, bactérias e plantas –, até que se tornasse uma mistura de material mineral particulado e matéria orgânica capaz de sustentar todas as atividades que nos auxiliam na manutenção da vida (RAVEN et. al., 2007).

O solo, como parte integrante do meio abiótico, ajuda a sustentar a permanência da vida no planeta, estando diretamente envolvido nas dinâmicas ecossistêmicas que apoiam a conservação ambiental, bem como o desenvolvimento de atividades que garantam as necessidades humanas. Dentro do escopo de importância para a humanidade, o solo pode ser analisado do ponto de vista físico, químico e biológico.

Para o agricultor, o solo viabiliza a produção agrícola; para a engenheira civil, é fundamental pela capacidade de suporte de cargas e por transformar-se em material de construção; para o engenheiro de minas é local de extração de minerais e jazidas; para o setor econômico, é fonte de divisas; por último, mas não menos importante, os ecologistas veem o solo como elemento que mantém serviços ecossistêmicos gratuitamente oferecidos pela natureza (BRAGA et. al., 2002).

Estes serviços nada mais são que as funções inestimáveis e imprescindíveis que natureza sustenta, como a regulação das chuvas, o clima, a permanência da vegetação para a proteção dos solos, o solo como fonte de nutrientes para as plantas, o agente responsável pela purificação das águas, entre outros benefícios diretamente relacionados ao homem. No entanto, o manejo e a exploração desse recurso têm sido realizados por meio de práticas pouco sustentáveis que causam degradação e poluição, alterando as características edáficas ideais para a manutenção adequada dos serviços por ele oferecidos.

Assim, as ações antrópicas têm interferido na capacidade natural do solo de suportar a agricultura, a pecuária ou os elementos bióticos e abióticos solo-dependentes (MILLER JR, 2007). Essas ações desencadeiam impactos ambientais negativos, os quais abordaremos adiante, originando processos erosivos, salinização, desertificação, poluição rural através do emprego de fertilizantes e defensivos agrícolas, e poluição urbana através do acúmulo de resíduos provenientes de indústrias, comércios e residências.

A erosão é caracterizada pelo processo de movimentação dos componentes do solo, cujos principais agentes podem ser a água e o vento. Os fenômenos erosivos quando desencadeados por fatores antrópicos podem ser resultado da alteração de determinada paisagem, através da remoção da cobertura vegetal natural que protegia os solos, do manejo inadequado de pastagens, das queimadas e de plantações mal planejadas em áreas acidentadas ou que se tornam susceptíveis a processos erosivos (MILLER JR, 2007; BRAGA et. al. 2002).

A erosão quando causada pela água, é consequência da remoção da cobertura vegetal, pois o impacto e a velocidade das águas diretamente sobre o solo nu são prejudiciais para a estabilidade telúrica, principalmente em áreas com alguma declividade. Quando as árvores estão presentes, o dossel absorve o impacto direto da chuva e o conjunto formado por raízes e serrapilheira auxilia na sustentação do solo (TOWNSEND et all., 2006). Isso se torna ainda mais importante em solos de regiões de clima úmido com consideráveis índices pluviométricos.

Os efeitos nocivos da erosão são a perda da fertilidade, em função de processos de lixiviação de nutrientes, e o carreamento de sedimentos, que terminam por se concentrar em corpos d’água próximos, ocasionando a poluição das águas. Em situação mais crítica, os processos erosivos podem formar voçorocas, enormes crateras no solo, de difícil reversão. Em áreas agricultáveis, uma das estratégias para conservar o solo é a construção de curvas de nível (terraços que direcionam o escoamento e diminuem o impacto das águas sobre o solo), e a conservação da cobertura vegetal, principalmente às margens dos rios.

A salinização pode ser vista como forma particular de poluição do solo, pois o excesso de sais na superfície causa alteração na estrutura e na função edáficas. O processo ocorre quando há a remoção da cobertura vegetal de determinada região, em geral regiões áridas ou semiáridas, favorecendo o aquecimento direto do solo através do sol (BRANCO, 1997). A constante evaporação das águas profundas do lençol freático, ricas em sais férricos e outros minerais, transporta por capilaridade esses sais que se acumulam na superfície, tornando os solos menos permeáveis.

Isso faz com que crostas salinas se formem na superfície do solo (latéritos), tornando-o de difícil manejo para culturas e impedindo a instalação de espécies vegetais. A salinização também pode ocorrer em áreas agricultáveis em função do uso intensivo da irrigação, pois esta prática permite que, por capilaridade, a água presente no lençol freático, rica em sais, concentre-se no nível do terreno, formando uma camada salina que traz consequências como o retardo de safras, a diminuição da produtividade, a morte das plantas e a decadência dos solos.

Um dos mais graves episódios de salinização do solo ocorreu devido ao uso excessivo de água dos rios Amu Darya e Syr Darya para irrigação de culturas, sobretudo de algodão, na extinta União Soviética. O volume de água utilizado contribuiu para a redução bem acelerada da área do Mar de Aral, na fronteira entre o Uzbequistão e o Cazaquistão. Com menos de 60% da área original do mar, “milhões de toneladas de pó e sais minerais têm sido levadas pelo vento, prejudicando a saúde de 5 milhões de pessoas” (DORLING KINDERSLEY, 2011: 249) ademais de tornar os verões mais quentes e os invernos mais frios.

Os processos de desertificação têm sido causa de preocupação em muitos países, pois as alterações ambientais em conjunto com práticas de manejo do solo inadequadas, tem agravado a seca em muitas regiões, trazendo fome, prejuízos econômicos e consequentemente criando os chamados refugiados ambientais. As causas desses problemas são os impactos negativos decorrentes do uso excessivo de pastagens, do desmatamento, da erosão, da salinização e da compactação do solo, ademais das modificações ocorridas na regulação do ciclo hidrológico (MILLER JR, 2007; BRANCO, 1997).

A desertificação, portanto, pode ser definida como o ponto máximo dos efeitos da degradação do solo e das variações climáticas, em que as condições se apresentam tão desfavoráveis que tornam o ambiente inóspito para a permanência da vida (ONU, 1994). Em função de esse problema ocorrer em escala global, a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceu uma convenção visando ao desenvolvimento de medidas eficazes para o combate à desertificação, tendo como foco principal o auxílio aos países do continente africano.

As áreas rurais são reconhecidas principalmente pelo uso do solo para as práticas agropecuárias, que são a matriz econômica de muitas regiões, além de serem as responsáveis por abastecer a crescente demanda mundial por alimentos. Diante da necessidade de potencializar a produção e reduzir as perdas nas safras em função do ataque de pragas e infestações de plantas daninhas, o agricultor busca como alternativas o uso de fertilizantes sintéticos (adubos) e de defensivos agrícolas (agrotóxicos) como forma de mitigar seus problemas.

No entanto, quando manejados de forma inadequada trazem sérios riscos para o meio ambiente. Ambos são bioacumulativos e podem atingir concentrações tóxicas, alterando o desenvolvimento da flora e da fauna, tanto no solo quanto nos corpos d’água. Uma vez acumulados nos solos, podem torná-los poluídos; quando expostos às águas pluviais ou de irrigação, são lixiviados, e a carga de poluentes é carregada até rios, riachos, lagos ou lagoas, provocando um fenômeno chamado eutrofização, cuja primeira etapa é o acúmulo de nutrientes nas águas, especialmente fosfatos e nitratos.

Isso promove o crescimento excessivo de algas que, à medida que morrem e se decompõem, aumentam os índices de matéria orgânica e de decompositores, que esgotam o oxigênio das águas provocando a morte de outros organismos (BRAGA et. al. 2002; TOWNSEND et. al., 2006). Dessa forma, podemos notar a influência da poluição do solo sobre a qualidade das águas. Ainda em relação ao solo, o excesso de fertilizantes e de agrotóxicos pode acarretar a inutilização do solo para a agricultura, reduzindo a extensão das terras cultiváveis.

A superfertilização do solo pode ainda desencadear processos bioacumulativos de nitratos em vegetais. Isso faz com que seja depositado o excedente de nutrientes nos diferentes níveis tróficos de cadeias alimentares, trazendo consequências ainda incertas. (BRAGA et. al., 2002). Fertilizantes, assim como a maior parte dos defensivos, não são seletivos, o que torna o mercado da biotecnologia mais importante. Herbicidas decorrentes de processos de engenharia genética surtem efeito sobre a biodiversidade local, exceto sobre a semente para a qual foi desenvolvida tolerância.

Os defensivos agrícolas são amplamente utilizados no meio rural para controlar pragas e ervas daninhas, e, na maioria das vezes, atingem também outras espécies, ademais de persistirem no meio ambiente além do tempo da colheita (TOWNSEND et. al., 2006). Os defensivos organoclorados, por exemplo, são persistentes e acabam por migrar entre os níveis tróficos das cadeias alimentares, desencadeando o fenômeno denominado biomagnificação ou amplificação biológica (BRAGA et. al., 2002; TOWNSEND et al., 2006).

Os defensivos agrícolas oferecem perigo quando usados indiscriminadamente, em dosagens superiores àquelas ambientalmente aceitáveis e também por trazer impactos ambientais negativos para toda a dinâmica ecossistêmica, ao atingir outras espécies que não as alvejadas. Uma vez que para muitos agricultores estas práticas são comuns e necessárias ao aumento da produtividade, o ideal é que possam contar com assistência técnica de profissionais habilitados para a escolha e aplicação de produtos que atendam as particularidades de cada caso.

Deve-se também priorizar a escolha de defensivos de baixo impacto ambiental negativo. Segundo Miller Jr (2007), cientistas buscam um pesticida que seja ideal para atender as necessidades rurais e que preencha os seguintes requisitos: ser altamente seletivo, exterminando apenas as pragas; não tornar as espécies-problema geneticamente resistentes; apresentar rápida degradação e não deixar resíduos; ser economicamente viável.

Na última década, a população mundial tornou-se predominantemente urbana, mas o crescimento das cidades, em grande parte do mundo, não foi acompanhado pelo aumento na disponibilidade de infraestrutura – especialmente a destinada ao saneamento básico e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Considerando os aspectos técnicos quanto à natureza e disposição desses resíduos, de acordo com a Norma Brasileira (NBR) 10004/2004 (BRASIL, 2004), podemos classificá-los em três classes.

A Classe I é formada por resíduos perigosos, como resíduos industriais contaminantes (químicos, solventes, graxas, corrosivos) e materiais hospitalares (patogênicos). A Classe II A é constituída por resíduos não-inertes, como lixo domiciliar e comercial, em que há grande quantidade de matéria orgânica, de papel e papelão e de plásticos, entre outros. A Classe II B representam resíduos inertes como entulho, tijolos, concreto e azulejos. Quando lançado inadequadamente, o lixo polui e contamina os ambientes, favorecendo a proliferação de vetores que trazem riscos para a saúde da população (BRAGA et. al., 2002).

Assim sendo, apresentaremos os principais destinos dos resíduos sólidos produzidos nas cidades – lixões e aterros sanitários. Estes são mais adequados para o gerenciamento de resíduos, pois para sua construção são realizados estudos de impacto ambiental, dentro do planejamento da obra, especificando a forma de utilização e até o período de vida útil do aterro. A deposição do lixo é feita em solo previamente preparado com a abertura de câmaras onde o lixo será depositado, sendo que estas são recobertas com mantas impermeáveis que evitam a contaminação do solo e das águas subterrâneas.

Os resíduos são dispostos em camadas no interior das câmaras, os quais são cobertos por uma camada de solo compactado. Nas câmaras, com baixa concentração de oxigênio, processa-se a biodegradação anaeróbica com a liberação de gás metano e de chorume, proveniente da decomposição da matéria orgânica (BRAGA et. al., 2002; BRANCO, 1997). O aterro sanitário é considerado ecologicamente adequado, pois há o controle das variáveis que podem trazer riscos ao meio ambiente. Os aterros, uma vez esgotada a vida útil, podem ser convertidos em áreas de recuperação vegetal, construindo-se parques e áreas verdes (BRAGA et. al., 2002).

Os aterros são vantajosos por reduzir os riscos de contaminação ambiental e como foi dito, por reaproveitar a área após o esgotamento. No entanto, apresenta desvantagens quanto a extensão de áreas utilizadas, além do impacto visual e demais aspectos relacionados a odores, tráfegos de caminhões e desconforto nas imediações do aterro. Em junho de 2012, ocorreu o fechamento do então maior aterro sanitário existente no Brasil, o de Gramacho (figura 1: Google Earth), no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Este aterro foi durante décadas um lixão que contaminava o solo, o lençol freático e a Baía de Guanabara, cujos urubus prejudicavam a movimentação do Aeroporto do Galeão.

Figura 1: Aterro de Gramacho em imagem de satélite.

Os lixões podem ser definidos como áreas de lançamento de lixo em que não há qualquer tipo de preparação do terreno ou controle dos danos ali criados. Acabar com a presença dos lixões nas cidades é um dos grandes desafios para a sociedade, pois envolve diversos problemas relacionados à poluição do solo, à saúde pública, à degradação urbana e à desigualdade social. O material depositado a céu aberto é atrativo para pessoas de baixa renda que buscam objetos, utensílios e até alimentos.
Os resíduos depositados nos lixões, via de regra, não sofreram qualquer tipo de seleção, contém elementos químicos e biológicos de toda natureza, e quando decompostos, formam o chorume que se infiltra no solo contaminando-o, podendo atingir os lençóis subterrâneos. O Brasil caminha para a solução dos problemas ocasionados pelo tratamento inadequado dos resíduos sólidos, com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rizzini, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, socioecológicos e florísticos. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural Edições Ltda, 1997.

Braga, B.; Hespanhol, I.; Conejo, J.G.L.; Barros, M.T.L.; Spencer, M.V.; Porto, M.F.A.; Nucci, N.L.R.; Juliano, N.M.A.; Eiger, S. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo, Prentice Hall, 2002. 305p.

Miller JR, G. Tyler. Ciência ambiental. Tradução: All Tasks; revisão técnica Welington Braz Carvalho. São Paulo, Cengage learning, 2007.

Warren, H. Dicionário de ecologia e ciências ambientais. Tradução: Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo, Unesp: Companhia Melhoramentos, 2001.

Townsend, C. R.; Begon, M.; Harper, J. L. Fundamentos em ecologia. Tradução: Gilson Rudinei Pires Moreira [et al]. Porto Alegre, Artmed, 2006.

Branco, S. M. O meio ambiente em debate. São Paulo, Moderna, 1997.

Raven, P. H.; Evert, R. F.; Eichhorn, S. E. Biologia Vegetal. [Coordenação da tradução Jane Elizabeth Kraus]. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2007.

Brasil. Resíduos sólidos – classificação. Norma Brasileira – ABNT NBR10004. Segunda edição 2004.

Organização das Nações Unidas. Elaboration of an international convention to combat desertification in countries experiencing serious drought and/or desertification, particularly in Africa. 1994. Disponível: http://www.unccd.int/Lists/SiteDocumentLibrary/conventionText/conv-eng.pdf. Acesso 12.10.12
 
DORLING KINDERSLEY; ISTOÉ – Enciclopédia Ilustrada da Terra. São Paulo: Três Comércio de Publicações, 2011.
 

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